Preconceito e privilégio no atropelamento com morte de um ciclista pelo filho do bilionário Eike Batista

O filho mais velho do bilionário Eike Batista com a modelo Luma de Oliveira, Thor de Oliveira Fuhrken Batista, atropelou e matou o ajudante de caminhão Wanderson Pereira dos Santos, aproximadamente às 19h30 do último sábado. Seria apenas mais uma morte nas estradas, caso Thor não fosse filho de quem é. Por causa disso, o atropelamento bombou nas redes sociais.

Segundo o SOS Estradas, acidentes nas estradas brasileiras matam 35 pessoas por dia e ferem outras 417, das quais 30 morrem. Ou seja, 65 mortos por dia. Portanto, o que define se um acidente vai ser notícia ou não depende dos envolvidos.

Foi o que aconteceu no caso do atropelamento de sábado. O jovem filho do bilionário atropelou o ciclista e reconheceu que o fez. Não fugiu. E se dispôs a ajudar a família no que fosse necessário - o que está fazendo, segundo se informa até o momento.

No entanto, a partir daí as opiniões entram em conflito. Segundo Thor e mais uma testemunha (ou duas, de acordo com a fonte) o ciclista atravessou a rodovia Rio-Petrópolis, quando foi atropelado. Segundo outra testemunha, o ciclista estava no acostamento e foi atingido de frente.

Thor pilotava uma Mercedes-Benz SLR McLaren prata, placa EIK-0063, ano 2006, o que, convenhamos, é um luxo pra nós, mas não para um bilionário - 2006?

Aí entram o privilégio e o preconceito. Alguns defenderam o jovem, por ser filho de quem é. Outros o condenaram pelo mesmo motivo. Puro preconceito.

Mas, o que não se pode admitir é o privilégio. Segundo o Código Nacional de Trânsito, em acidentes com vítimas o(s) veículo(s) deve(m) permanecer no local à espera da perícia. Ou, em caso de atrapalharem o trânsito, ser(em) levado(s) a local seguro.

No entanto, advogado do filho de Eike conseguiu pegar o carro e levá-lo para local incerto e não sabido (como gostam de dizer as reportagens policiais), com a promessa de que ele não seria adulterado. Se não fosse advogado de quem é, teria conseguido?

Preconceito e privilégio são duas faces da moeda do sistema capitalista, baseado no ressentimento.

O caso lembra o atropelamento e morte do filho da atriz Cissa Guimarães, como bem observou o Jornal do Brasil:

Em julho de 2010, o empresário Roberto Bussamra, pai do atropelador do filho da atriz Cissa Guimarães, foi indiciado por corrupção ativa depois de ter, segundo policiais militares, oferecido R$ 10 mil para que liberassem seu filho e o carro envolvido na morte do músico.

Na noite do atropelamento, o carro que matou o skatista Rafael Mascarenhas foi retirado do Túnel Acústico, na Gávea, irregularmente, e foi enviado para uma oficina mecânica, em Quintino, na Zona Norte do Rio, para que se consertasse os estragos feitos pelo atropelamento. Eliminando assim, possíveis provas. A suspeita da polícia, era de que o carro de Rafael Bussamra era usado para fazer um pega no momento do acidente. O Túnel Acústico estava fechado para manutenção, mas o atropelador conseguiu adentrá-lo por meio de um vão de emergência.

Segundo o JB, o advogado Cléber Carvalho Rumbelsperger, contratado pela família do ajudante de caminhão atropelado pelo filho do bilionário (advogado de ajudante de caminhão? Hum! Eles [advogados] são rápidos e oportunistas como camelôs... rsrs), afirmou que alguns procedimentos adotados são irregulares:

A primeira suspeita do advogado é sobre as poucas informações da perícia que teria sido realizada no local do acidente e no veículo usado por Thor. A outra suspeita recai sobre o fato do advogado da família de Thor ter ido à delegacia no lugar do atropelador e, em seguida, ter retirado o veículo do pátio da Polícia Rodoviária Federal.

"O documento de ocorrência policial (registro de ocorrência) não diz absolutamente nada. A polícia não ouviu ninguém, ao que me consta. Isso não é de praxe, não é comum se ver isso. É muito estranho que o atropelador deixe o local da morte sem ter ido à delegacia. O motorista foi abordado por policiais na hora do acidente, deveria ter ido à delegacia de polícia para prestar esclarecimentos, mas isto não aconteceu", destacou o representante da família da vítima, baseado numa cópia do registro de ocorrência.

Se o ciclista ajudante de caminhão fosse o bilionário e o atropelador o ajudante de caminhão, a história seria contada do mesmo modo? Familiares conseguiriam retirar a "Brasília amarela" do local, com a promessa de mantê-la intacta?

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